O Jornal de Angola critica hoje, em editorial, as “ervas daninhas” das relações luso-angolanas, referindo-se às posições assumidas pela eurodeputada socialista Ana Gomes, que alerta constituírem o “único irritante” entre os dois países. Trata-se de uma “cópia” do que era habitual o Pravda do MPLA dizer sempre que a eurodeputada falava do regime. Também, neste caso do JA, as “ervas” mudaram mas as que lá estão continuam a ser “daninhas”.
No editorial, o jornal detido pelo Estado/MPLA reage às recentes declarações de Ana Gomes, que afirmou que a transferência para Luanda do processo do ex-vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, – que era exigida pelas autoridades angolanas e que o Governo português classificava como “o único irritante” nas relações bilaterais – “foi fabricada”.
“Quando pensávamos todos que o processo de normalização das relações entre as autoridades políticas portuguesas e angolanas conhecessem um momento reciprocamente vantajoso, eis que não faltam vozes que preferem correr em contramão”, começa por descrever o editorial de hoje sob o título “As ervas daninhas das relações luso-angolanas”.
Certamente que, por ser o mais nobre paradigma do jornalismo instituído nas aulas de “educação patriótica” do MPLA, o Jornal de Angola continua na senda – já muito bem iniciada no templo da dupla José Ribeiro/Artur Queirós – de tentar chegar ao prémio Pulitzer pela via intestinal.
Acrescenta o Pravda que “de algum tempo a esta parte, uma das vozes desestabilizadoras, do tipo ervas daninhas” das relações entre Angola e Portugal, “com recurso ao que para muitos parecem tentativas frustradas de ajuste de contas políticas, tem sido indubitavelmente a eurodeputada socialista, Ana Gomes”.
O jornal fala mesmo numa “cruzada” de Ana Gomes “contra o Estado angolano e contra as autoridades angolanas”, nas posições assumidas, recordando que no processo judicial envolvendo o ex-vice-presidente de Angola (na altura dos factos PCA da Sonangol), “as autoridades portuguesas sempre fizeram constar, com toda a razão e sentido de Estado, que por força da separação de poderes o poder político não podia interferir nas decisões dos tribunais, de resto uma posição em que também alinha o Estado angolano”.
“Pretender que houve pressão política interna das autoridades políticas para as judiciais, a fim de se efectivar a transferência do processo para Angola é de uma irresponsabilidade política, da parte de Ana Gomes, mas que, a ninguém surpreende. Provavelmente, se não ocorresse a decisão do poder judicial português de enviar o processo do antigo vice-presidente para Angola, Ana Gomes teria inventado outras ‘barbaridades verbais’, um comportamento errático e obsessivo que começa a transformar-se, isso sim, no ‘único irritante’ laço entre os dois povos”, aponta o editorial.
O Pravda não diz mas, certamente, depois de previamente aprovado por quem manda em Angola, este editorial deve ter sido subscrito também por impolutos cidadãos portugueses, de Marcelo Rebelo de Sousa a António Costa, de Augusto Santos Silva a Assunção Cristas, de Azeredo Lopes a Jerónimo de Sousa.
Na quinta-feira, o senhor Silva (Santos), ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, desmentiu “em absoluto” que as autoridades políticas portuguesas tenham exercido pressão política para que a justiça decidisse enviar o processo do ex-vice-presidente angolano para Luanda, como afirmou a eurodeputada socialista Ana Gomes.
“No que me diz respeito, se a alegação de que houve pressão política quisesse dizer pressão das autoridades políticas portuguesas, eu desminto em absoluto”, afirmou aos jornalistas Augusto Santos Silva.
“O que mais contribui para tentativas de descarrilamento das relações entre os dois Estados são essas ervas daninhas, nos dois lados, herdeiras de um passado que não volta e sedentas do advento de uma era que não chegará nunca”, acrescenta, por seu lado, o editorial.
O brilhantismo anedótico e histriónico deste parágrafo é mesmo típico de José Ribeiro. Será que não foi ele quem o escreveu? Hum!
Por isso, o Jornal de Angola alerta: “Não é exagerado esperar um posicionamento mais firme das autoridades angolanas contra quem fala, age e actua contra si, contribuindo para todos os efeitos negativos deste procedimento recorrente”.
O Pravda defende que “é verdade que relativamente à relação dos Estados, as autoridades angolanas estão descansadas”, em função das posições assumidas pelo ministro português dos Negócios Estrangeiros, mas que “não podem” ficar “impassíveis diante de palavras tão graves e irresponsáveis da eurodeputada Ana Gomes”.
“Sempre que pode e não se sabe exactamente movida por que razões” (José Ribeiro culparia Jonas Savimbi), “lança todo o seu fel contra tudo o que diga respeito a Angola e às suas autoridades. As autoridades angolanas não se vão deixar intimidar por essas ervas daninhas, dentro e fora de Angola, que procuram inviabilizar o crescimento da planta nascida com o actual processo de reaproximação entre Angola e Portugal”, conclui o editorial.
Folha 8 com Lusa